quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Telefonia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG)

A reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Telefonia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada nesta quarta-feira (9/10/13) foi marcada por críticas ao atendimento prestado nos call centers das operadoras. “Eles transferem para um e para outro, te enrolam e te vencem pelo cansaço para que você não cancele o serviço. Isso é norma dentro das empresas”, disse o diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações de Minas Gerais, Fernando Antônio Pereira Cançado.

Ele explicou que, desde o ano 2000, houve incremento dos serviços de teleatendimento, prestado por empresas de pequeno e médio porte, nos quais os funcionários são submetidos a metas irreais de vendas e retenção (impedir cancelamento de serviços). O representante do sindicato levou à audiência um ex-funcionário de call center, que disse, em seu depoimento, disse que a empresa oferecia treinamento para impedir que os clientes cancelem serviços. “A demora no atendimento é planejada. O cara tem que esperar até ficar nervoso e desistir”, disse Ítalo, que trabalhou por seis anos em uma empresa que prestava serviço para a TIM.

Os funcionários dessas empresas terceirizadas são, segundo Fernando Cançado, submetidos a baixos salários, coação e assédio moral, e cada vez mais são vítimas de doenças como perdas auditivas e outras causadas pelo trabalho ininterrupto. Ele afirmou, ainda, que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) marca dia e hora para as fiscalizações, de forma a garantir que os indicadores sejam alcançados. “É um jogo de cartas marcadas”, disse.

O deputado João Leite (PSDB) afirmou que o Estado tem falhado mais do que as empresas, já que não cumpre seu papel de fiscalizar. “Se eles avisam com antecedência as datas das vistorias, então o resultado do jogo já está acertado”, afirmou.

Para o deputado Sargento Rodrigues (PDT), a relação entre as empresas e a Anatel é promíscua. “A Anatel só finge que está fiscalizando”, disse. O parlamentar também leu trechos de um jornal que falava sobre uma pesquisa da União Internacional de Telecomunicações que avaliou 161 países e colocou o Brasil como aquele com uma das maiores tarifas. “Um minuto em Hong Kong custa US$ 0,01 e no Brasil, US$ 0,71. É uma vergonha o que as empresas de telefonia fazem com o consumidor neste país”, disse.

Sindicato fala da precarização das relações trabalhistas

Fernando Cançado também criticou a privatização, que teria levado a esse aumento de custos do serviço. “O preço dos pulsos dos telefones móveis variou 415% entre julho de 1994 e julho de 2006, e a assinatura dos telefones residenciais ficou quase 7.000% mais cara", disse. Ele afirmou que a privatização gerou, ainda, grande precarização das relações de trabalho no setor, com a terceirização de quase todas as áreas.

De acordo com Cançado, hoje existem cerca de 45 mil funcionários terceirizados no setor em Minas Gerais. Ele ressaltou também o aumento do número de acidentes de trabalho e destacou que isso se reflete diretamente na prestação de serviços, já que a rede externa, por exemplo, deixa de receber manutenção preventiva.

O deputado Romel Anízio (PP) discordou do convidado e afirmou que as privatizações foram tão boas que nem consegue se lembrar de um malefício. “Fui um defensor ardoroso dessas privatizações no Congresso Nacional quando era deputado federal e tenho certeza de que elas trouxeram grandes avanços”, disse.

Requerimento - Ao final da reunião, os parlamentares aprovaram um requerimento do deputado Sargento Rodrigues para que sejam feitas visitas às empresas de call center para verificar irregularidades relatadas durante a reunião.